Já passa das 10h quando a noivinha se encaminha para o local do casamento. Ela está serelepe, ancorada de um lado pela mãe, que segura a sua mão, e de outro pela avó. Aproveita esse suporte para dar uns pulinhos entre um e outro desnível da rua. A saia branca com detalhes em vermelho e muitas camadas se move ao vento. Quem vê sua animação e a forma como fala ao microfone durante a cerimônia (fazendo sua voz ser ouvida aos quatro cantos da Varanda Cultural) talvez não imagine que a noiva cheia de atitude e energia é tímida que só. Se em 2025 ela traja o lindo vestido branco confeccionado a muitos mãos e parece à vontade no papel da protagonista da festa, em 2023 ela era o próprio arco-íris: Sol se encontrava com todas as cores que aparecem no céu, a partir da veste criada pela mãe, mas precisava do apoio dela (o mesmo apoio de quem hoje lhe dá impulso para o pulo) para se apresentar na dança da Creche III. Três anos separam as duas cenas e marcam a despedida que se aproxima da Escola La Salle RJ.
Sol em dois momentos: como noiva no Pré II e na dança em sua primeira festa junina na escola, ao lado da mãe
“A Sol é uma criança tímida e é emocionante ver a evolução dela. Em quantos Dias das Mães, ela não dançou... Quando soube pelas professoras que ela seria a noiva já alertei sobre isso, mas elas acreditavam e eu passei a confiar também”, revela Estela Pinheiro. Como na entrevista a este site em 2023, Estela citou o quanto a conexão com a filha a partir da confecção dos vestidos a faz voltar na infância: “Eu lembro muito da minha mãe produzindo minhas roupinhas. Essa, em especial, de noivinha foi feita por todo mundo. Eu comprei o tecido, mas faltou pano, o avô dela foi lá e comprou mais. A minha mãe, que é estilista, cortou. A Jana, costureira lá da loja, fez, e eu enfeitei ele todo”.
A mesma lógica do trabalho em equipe está por trás de cada detalhe do Arraiá da Escola La Salle RJ. Na véspera da festança, as professoras acompanham a coordenadora Maviane Lima em um mutirão para montar cenário, brincadeiras, organizar as prendas. No dia da festa todos se envolvem, não só com as danças, treinadas ao longo de semanas, mas na divisão de tarefas nas barraquinhas. Isso sem falar no trabalho pedagógico desenvolvido ao longo dos meses de junho e julho. Suelen Sophia conhece bem esse trabalho. Atualmente integrante da Pastoral do Colégio La Salle Abel, ela foi assistente de coordenação e mesmo em outra unidade da Rede não deixa de se fazer presente no cotidiano das crianças da La Salle RJ, com quem conviveu de 2020 a 2023. Vez por outra está de volta, seja para emprestar seu canto a uma celebração seja para admirá-las no Arraiá:
“Esse é um momento em que eles podem de fato extravasar essa alegria, esse colorido que faz parte da escola, o acalento, o aconchego, tudo o que sempre me faz voltar por ser também o berço do meu aprendizado, da minha prática. Para além de ensaiarem, as crianças constroem em sala de aula as bandeirinhas que enfeitam toda a festa e o Arraiá ainda representa a família junto, participando do trabalho desenvolvido na escola. O aluno passa o dia nesse espaço e agora pode trazer a mãe, o pai, para mostrar o que fez, sente orgulho de onde estuda. Esse senso de pertença é fundamental”.
Suelen posa para foto ao lado de Maviane em 2023, último ano seu na Escola La Salle. Naquele Arraiá, sua mãe, Nelzeli, confeccionou as bandanas que são adereço das professoras até hoje
Antes desta matéria chegar ao fim, a tia Mavi, aquela que Suelen chama de mãe da La Salle RJ, tem um recado para dar ao microfone: “Mas agora peço a atenção de todos pois vem o principal. O casório mais esperado deste nosso Arraial...”. O padre Fernando já está no altar, assim como a mãe da noiva, que no faz de conta não é mais Estela e sim a pequena Helena. A noiva Mariazinha (Sol) entra em passos firmes acompanhada do pai (Thiago). Ué, mas tem alguma coisa errada.... Cadê o noivo? Essa é justamente a resposta que todos querem saber e lá vai o delegado Lorenzo, com distintivo de xerife no peito e tudo, atrás fujão. Joãozinho (Eduardo) é encontrado e tá tudo pronto pro casório, Mariazinha mesmo que o carrega desfile adentro para garantir a cerimônia. Chega a hora da pergunta mais aguardada, feita pelo Padre Fernando: “Mariazinha, você aceita Joãozinho como seu esposo?”. “EU ACEITO!”, brada a noiva. “Joãozinho, você aceita Mariazinha como sua esposa?. “Sim, quero sim sim”, responde o noivo. “Eu vos declaro marido e mulher! Pode beijar a noiva”, convida o padre. “Mas, minha mãe não deixa”, responde Joãozinho, arrancando risadas do público. O casamento na roça chega ao fim com um doce beijo na mão de Mariazinha, e uma quadrilhada danada de boa para comemorar, sô.
Por Luiza Gould
Fotos de Adriana Torres
Ascom Unilasalle-RJ